Na
minha adolescência escrevia cartas.
Cartas
para todos: pais, irmão, amigos, amores e para mim num caderno de folhas
amarelas e pautas mal traçadas. Um caderno com cheiro do tempo, que reencontrei
depois de, no mínimo, oito anos.
Cartas
não enviadas que ainda fazem sentido e que ainda tem o poder de me deixar com
os olhos brilhando, com as bochechas coradas e pernas contorcidas.
Cartas
escritas com verdade que eu só tinha quando aos quatorze anos.
Continuo
escrevendo cartas.
Hoje
escrevo para quem não lê, para quem me esquece nos pés da cama, em páginas
fantasiosamente lindas que nem eu mesma consigo enxergar.
Cartas
sem papel, cartas em ardor, cartas não mais de mim.