sexta-feira, 29 de abril de 2011

Exibicionismo

Ela entrou naquele lugar turvo pela fumaça de meia dúzia de cigarros acesos na mesa próxima a porta, a espera de seus donos retornarem com copos cheios.
Ela se sentou no último banco, no final do corredor que cuspia um emaranhado de calor e medo. Uma náusea tomou conta daquele corpo que era despido rapidamente pelos olhares das outras que se mantinham nos cantos mal iluminados pelos desejos dos outros.
A luta estava no auge. Os corpos suados e ventres trêmulos ocupavam as cabeças libertas do dia que o sol a pino fez brotar fogo do chão. Todos os olhos acompanhavam uma disputa espetacular que a palavra fazia seu reinado na mais plena ausência.

* * *
Cena de um sonho tardio, de uma vontade de asas...

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Uma tentativa


Venha!


Chegue um pouco mais perto... Isso!


Assim é melhor porque podemos falar baixo, bem baixinho porque quero que só você ouça:


- Vamos fazer uma brincadeira?


- Qual brincadeira?


- Esconde-esconde!


- Para quê?


- Só para eu te redescobrir e experimentar, mais uma vez, como é a sensação de encontrar seus olhos.

domingo, 24 de abril de 2011

Ordem


Aos homens de muita crença e coragem


mais intensos que o metal


mais frágeis que as palavras


Àqueles que têm sua capacidade desdenhada


que fornecem sofrimento


suor, sangue, dor...


Fantoches da lei!


Entrelaçados à mentira


Suspensos por covardia


Nutridos por bravura


Movidos aos berros


Vidas engolidas.


Aos homens de muita audácia e soberba


mais poderosos, porém fracos


mais apressados e sórdidos
Àqueles de cabelo, sapatos e vincos impecáveis


que não perdem a pose


só a compostura, caráter, respeito...
Simuladores!
Dominam os modestos


Apossam-se de vidas compradas


Exploram e descartam


Cobiça e avareza solidificadas
Vidas vazias.



É preciso ordem:


Pastores comendo grama


Ovelhas mancas e vesgas no poder!






Publicada no Manual de Poesia - Iracemápolis 2010 e escrita há 6 anos simboliza a volta dos tempos de revolta.