terça-feira, 15 de junho de 2010

Escrita nua!

"As pessoas sentem minha escrita como uma agressão; elas sentem que existe nela alguma coisa que as condena à morte; eu não as condeno à morte, simplesmente suponho que já estejam mortas."
 Michel Foucault

Você leu Foucault, não? Então o que está esperando?

domingo, 13 de junho de 2010

A palavra

As páginas marcadas significam muito mais que despertar atenção do próximo leitor.

Vincos e rasgos, por vezes rabiscos e frases mal acabadas e vazias, recordam meu tempo de infância onde os fazia por capricho, porém dessa vez seguiu-se diferente. Folhas sujas e com orelhas fazia explícito as vezes que havia sido folheada.
Talvez minhas mãos a contaminaram, talvez ela contaminou meus sonhos e me fez ver mais. Embora ainda seja pouco, é gradativo...

Mais de dez anos de servidão à um disparate, fruto de incitação social e generalidade esmolando solução e explicação para o futuro-presente, que foram muito proveitosos e me renderam um juízo e tino para diferenciar e me definir à esquerda.

Cabeças e joelhos cobertos não são sinônimos de virgindade, menos ainda espiritual. Lágrimas, devoção e a caça por piedade me repelem, sinto-me miúda e fraca entre as varejeiras e larvas e sei que minha preferência sempre foi por sanguessugas, que se embebedam de curiosidade e não virtudes, que a engolem para conceber opinião própria e não seguir a procissão e imunes de liturgia trivial.
Longe de ser intencionalmente produzido para expor e hegemonizar, é cautela - também traiçoeira e equivocada - que se diz ser sensata e prudente entre tanta balela.

É desafiadora, complexa, instigante e mágica! Faz crenças e falta dela reduzirem a um passado penosamente blasfemo onde os novos valores de integridade são mais tortuosos, mas o calvário é necessário para o reino glorioso da ultravida ser atingido? A cólera cada dia mais salgada, a muamba de ensinamentos mais flexível e os leais seguidores mais bocós, não por falta de verdade, mas por excesso de filantropia desfigurada e politicagem. Já que essa é a última perspectiva de melhora e acreditar em promessas é mais fácil.

O código rasgado, riscado e sujo não é uma afronta à doutrina que se faz presente nela, e o preceito de igualdade e perdão são culminantes até a ultima forma de não tentar achar explicações e fazer a contradição aflorar.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A flor e a náusea (e o domingo)

Assistir TV domingo a noite pode ser extraordinário.
Principalmente quando se tem uma pessoa singular ao lado que, ao som do Pânico na TV, apresenta o seguinte poema de Drummond de uma forma tão despretensiosa e encantadora.

Quero mais, muito mais TV aos domingos!


A FLOR E A NÁUSEA

Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Carlos Drummond de Andrade
(do livro A Rosa do Povo)

domingo, 6 de junho de 2010

Ideal de mulher

É muito mentira o que revelam as enquetes de revistas masculinas quando concluem que homens gostam de mulheres inteligentes como ideal de companheirismo ao longo da vida.

As colunas semanais que publicam opiniões dessa ordem priorizam uma descrição física de uma gostosa com peitos e bunda (quase) em excesso e com intelecto que acompanhe essas proporções. Embora sejam raras as personificações dessa descrição em sua forma completa - bunda, peito e cérebro - é essa a vontade que, supostamente, seria da maioria dos homens.

Não há como negar que nós, mulheres, também somos contagiadas por um belo par de pernas e um andar sedutor. O olhar para traz quando elas passam é unisex.
Quando minha mãe me dizia que homens escolhem as mulheres que pensam mais e são mais verdadeiras na vida, eu acreditei. E hoje vejo o quanto ela estava errada, ou eu, por acreditar.

Vamos fazer uma pesquisa de opinião: qual o homem que não quer uma mulher inteligente ao lado para apresentar aos amigos e saber que ela vai impressionar a todos com uma conversa de conteúdo, conversar depois do sexo, acompanhar uma vida social de programas que vão além de visitinhas ao shopping; enfim de alguém um pouco menos superficial que os modelos de Barbie que domina a atualidade?

Tenha certeza que todos responderiam que essa é a mulher dos sonhos!
Você acreditaria? Não caia no mesmo erro que eu cometi um dia em acreditar, lá atrás quando minha mãe me disse o mesmo. A verdade é que eles gostam das burras! Que falam sempre no diminutivo, que são submissas e superficiais!

Minha avó sempre contava para as netas que as amantes sempre são gostosas e burras, por acreditar em falsas promessas e tantas outras coisas... Hoje as coisas se inverteram: as gostosas e burras são as esposas e as inteligentes (nem sempre gostosas) amantes!

Uma boa noite não se reduz a um sexo animal com um espartilho de oncinha e muita transparência com um belo par de pernas, é também uma conversa de pernas entrelaçadas e olhares para o teto com risos e cumplicidade que preencha fisicamente os espaços de um quarto de motel ou no carro numa rua pouco movimentada.

Essa inversão, talvez, seja pela valorização do corpo como objeto de barganha no
jogo da sedução ou, simplesmente, por eu estar errada.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Manifesto: o início


Aos tropeços na empáfia que vela os reais fins de uma rixa de poder os vermes são a maioria e, insistem em  não cessam o vão de uma causa inútil.
Certo é que o homem se comporta de maneira quão igual ao animal, este que se molda em valores de igualdade e comunidade, mas ecoamos nos desacertos tornando-se, incansavelmente, parto de fetichismo. Ingênuo e sagaz bicho que nem o Darwinismo social não elimina a calda emaranhada no cérebro.
Correto seria afirmar que o status de um individuo é determinado, ou seria, pela sua subjetividade, capacidade de assimilação e convertê-la ao mundo sensível [que Platão me perdoe a citação em um tema tão medíocre para seu cidadão, Ágora e sua polis, mas faço uso deste até o fim], mas nos parâmetros de inversão de uma sociedade coisificada espantoso seria uma atitude diferente da desempenhada por um vulgo maestro de um espetáculo sem platéia. Que se une a ratos da comunicação, seria insano dizer repasse de informação, por motivo explicitanizado de politicagem da pior espécie. Embora seria prudente dizer melhor linhagem, pois na disputa, encurralamento e susto acabam se revelando e cabe aos homens com metes raras [se Nietzsche pudesse me ver agora...] disseminar a realidade além da caverna de sombras.
Majestosa é a postura de quem se esquiva principalmente da percepção em manter-se longe do caos e do ninho de serpentes sem destes.
As virtudes que as varejeiras acumulam são pescados e desenvolvidos com muita paciência e perspicaz e assim se constituem no mais doce perambulo da falta do que fazer. 

Terça-feira, 17 de Abril de 2007 14:07

Lou Salomé

Raio de sol de uns, amante de outros, inspiração de tantos...
Lou Andreas-Salomé continua encantando e despertando, em mim, o gosto pela vida!


"Ouse, ouse... ouse tudo!!!
Não tenha necessidade de nada!
Não tente adequar sua vida a modelos,
nem queira você mesmo
ser um modelo para ninguém.

Acredite: a vida lhe dará poucos presentes.
Se você quer uma vida,
aprenda... a roubá-la!

Ouse, ouse tudo!
Seja na vida o que você é,
aconteça o que acontecer.
Não defenda nenhum princípio,
mas algo de bem mais maravilhoso:
algo que está em nós e que queima
como o fogo da vida!

Quem pois, dominado por ti, poderá escapar,
Se sentiu teu grave olhar voltado para ele?
Eu não fugirei, se me apanhas
Jamais crerei que só fazes destruir!
Entretanto - tu também, mereces ser vivida!
Claro, não és um espectro da noite
Vens lembrar tua força ao espírito:
É o combate que engrandece os maiores,
O combate como derradeiro alvo, por caminhos
Por isso, se só podes me ofertar, ó dor,
Em lugar de felicidade e do prazer, a verdadeira grandeza,
Vem lutar comigo, num corpo a corpo,
Vem lutar comigo, na vida e na morte -
Mergulha no fundo do coração,
Mergulha no mais profundo da vida,
Leva para longe o sonho da felicidade e da ilusão
Leva para longe o que não merecia um infindo esforço.

Nunca triunfará verdadeiramente sobre o homem autêntico
Mesmo que ele te ofereça teu peito nu
Mesmo que se aniquilasse, desaparecesse na noite!

És apenas um pedestal para a grandeza do espírito!
No mais profundo de si mesmo, o nosso ser
rebela-se em absoluto contra todos os limites.

Os limites físicos são-nos tão insuportáveis quanto
os limites do que nos é psiquicamente possível:
não fazem verdadeiramente parte de nós.

Circunscrevem-nos mais estreitamente do que
desejaríamos."

Lou-Salomé
(verdadeiramente, raio de sol)