quarta-feira, 27 de junho de 2012

Apresentação de mim (um trabalho de alma)


Prezados ouvintes,

Nesta manhã nos reunimos por uma razão, mas esta, por si só, não garantiria a nossa união porque esta transcende a presença material.
É com um sentimento impossível de ser nominado que encontro nesta forma de expressão a voz para o meu trabalho. Uma tentativa de descrever um percurso acadêmico e intimamente pessoal desse processo de formação, primeiramente, humana e em psicologia.
A trivialidade de início por um título reflete a necessidade de situar o (quase) devaneio que esta carta se materializa em Ensino Superior brasileiro e a mercantilização do conhecimento: a formação do psicólogo, o qual abre passagem para iniciarmos uma caminhada ao longo de algumas dezenas de páginas que amadureceram a alma da autora.
Me aventuro a definir margens e afirmar objetivamente que discutir a formação em psicologia num contexto neoliberal/capitalista como forma de construção do conhecimento no Ensino Superior brasileiro, a partir de uma revisão de literatura é uma tarefa transformadora. Aprendi a esculpir com ferramentas emprestadas da doutrina marxista, com fios de ouro que delinearam o corpo de uma pesquisa acadêmica e da minha vida.
(N)as minhas cadeiras é o primeiro momento que os olhos ainda maquiados se preparam para a nudez, esta é recebida com dor no momento que o primeiro passo em busca a realidade se aproxima. Esta começa a me dizer que a realidade brasileira e o capitalismo é um mundo que a estatística supera a singularidade do homem em nome da mais valia, que o capital germina em sua forma mais vil, que a alienação e fetichismo vigoram em nome da ideologia e que a inclusão marginal cresce assustadoramente em um sistema econômico e um objetivo: o capital que, por sua vez, tem o trabalho real a seu favor e como finalidade configurando o capitalismo.
Tantos anos sucederam a obra de Marx e, a partir de seus desdobramentos, adentro ao campo da educação entendendo que a atualidade de uma compreensão: a educação e a leitura marxista alimenta a crítica e a força, que hora se dissipa, hora me reveste com coragem. Em momentos rarefeitos meus ombros caem diante das políticas neoliberais e a educação brasileira: uma lógica mercadológica opressora e violenta, que assume 30% da população brasileira vinculada a Instituições de Ensino Superior e invisibiliza 5,5 milhões de humanos que não concluem sua formação. A mim, coube o pertencimento a seleta casta de trabalhadores, estudantes noturnos, de origem afro/indígena e pobre que tiveram condições de concluir um processo de formação profissional e poder olhar para este com criticidade que assola demasiadamente e fragiliza meus olhos desnudos.
Estes mesmos olhos ouviam que o Ensino Superior garante a melhoria da condição de vida em geral e, historicamente, meus olhos estavam certos. No século dezenove o desígnio com a formação especializada era o bem social, porém elitista e a serviço da manutenção da eterna luta de classes, pois somente determinada classe tem (tinha e terá) acesso ao conhecimento específico, assim a educação assume veementemente a sua face torta e rude: o controle; posteriormente social, cultural até a atualidade caracterizada pela economia.
A lógica desse sistema neoliberal economiza. Não economizei sofrimento quando o meu corpo cedia nem quando a minha alma cansada suplicava por água. Não economizei disposição e força para finalizar um trabalho forjadamente menos alienado. Também não economizei a Nany de si mesma, e por esta causa que aqui permaneço.
  


Texto construído para iniciar apresentação Dissertação apresentada em 27 de junho de 2012 como requisito de Conclusão do Curso de Psicologia apresentado a Fundação Hermínio Ometto – UNIARARAS.