Prezados
ouvintes,
Nesta manhã nos reunimos por uma razão, mas
esta, por si só, não garantiria a nossa união porque esta transcende a presença
material.
É com um sentimento impossível de ser nominado
que encontro nesta forma de expressão a voz para o meu trabalho. Uma tentativa
de descrever um percurso acadêmico e intimamente pessoal desse processo de
formação, primeiramente, humana e em psicologia.
A trivialidade de início por um título reflete a
necessidade de situar o (quase) devaneio que esta carta se materializa em Ensino Superior brasileiro e a
mercantilização do conhecimento: a formação do psicólogo, o qual abre
passagem para iniciarmos uma caminhada ao longo de algumas dezenas de páginas
que amadureceram a alma da autora.
Me aventuro a definir
margens e afirmar objetivamente que discutir
a formação em psicologia num contexto neoliberal/capitalista como forma de
construção do conhecimento no Ensino Superior brasileiro, a partir de uma
revisão de literatura é uma tarefa transformadora. Aprendi a esculpir com
ferramentas emprestadas da doutrina marxista, com fios de ouro que delinearam o
corpo de uma pesquisa acadêmica e da minha vida.
(N)as
minhas cadeiras é o primeiro momento que os olhos ainda maquiados se
preparam para a nudez, esta é recebida com dor no momento que o primeiro passo em
busca a realidade se aproxima. Esta
começa a me dizer que a realidade brasileira e o capitalismo é um
mundo que a estatística supera a singularidade do homem em nome da mais valia,
que o capital germina em sua forma mais vil, que a alienação e fetichismo
vigoram em nome da ideologia e que a inclusão marginal cresce assustadoramente
em um
sistema econômico e um objetivo: o capital que, por sua vez, tem o trabalho real a seu favor e como finalidade
configurando o capitalismo.
Tantos anos sucederam a obra de Marx e, a partir
de seus desdobramentos, adentro ao campo da educação entendendo que a atualidade de
uma compreensão: a educação e a leitura marxista alimenta a crítica e a
força, que hora se dissipa, hora me reveste com coragem. Em momentos rarefeitos
meus ombros caem diante das políticas
neoliberais e a educação brasileira: uma lógica mercadológica opressora e
violenta, que assume 30% da população brasileira vinculada a Instituições de
Ensino Superior e invisibiliza 5,5 milhões de humanos que não concluem sua
formação. A mim, coube o pertencimento a seleta casta de trabalhadores,
estudantes noturnos, de origem afro/indígena e pobre que tiveram condições de
concluir um processo de formação profissional e poder olhar para este com
criticidade que assola demasiadamente e fragiliza meus olhos desnudos.
Estes mesmos olhos ouviam que o Ensino Superior
garante a melhoria da condição de vida em geral e, historicamente, meus olhos
estavam certos. No século dezenove o desígnio com a formação especializada era
o bem social, porém elitista e a serviço da manutenção da eterna luta de
classes, pois somente determinada classe tem (tinha e terá) acesso ao
conhecimento específico, assim a educação assume veementemente a sua face torta
e rude: o controle; posteriormente social, cultural até a atualidade
caracterizada pela economia.
A lógica desse sistema neoliberal economiza. Não economizei sofrimento quando o meu corpo
cedia nem quando a minha alma cansada suplicava por água. Não economizei
disposição e força para finalizar um trabalho forjadamente menos alienado.
Também não economizei a Nany de si mesma, e por esta causa que aqui permaneço.
Texto construído para iniciar apresentação Dissertação apresentada em 27 de junho de 2012 como requisito de Conclusão do Curso de
Psicologia apresentado a Fundação Hermínio Ometto – UNIARARAS.