domingo, 14 de agosto de 2011

2 Junho 2008

Que as palavras faltem e que as horas passem
eu vou estar aqui!
pronta pra ser sua
amiga, companheira
e fêmea
que te deseja e te
quer ter perto,
bem perto...
Até não mais enxergar dois olhos
mas apenas um.
Ou, até não mais possa ver e sentir dois corpos
mas penas um.
E até não mais possa ser duas pessoas
mas apenas uma.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Escuta: uma tentativa - Adaptação Parte II


* * *


Em um espaço que o tempo é mensurado por semestre, o desempenho é medido por notas e o poder é estabelecido pelo pagamento de uma mensalidade no valor correspondente a dois salários mínimos¹ ... Esta entidade filantrópica assume seus contribuintes (no sentido mais cínico possível) como massa de modelar, mal moldada.

Ruth Rocha escreveu “Quando a escola é de vidro...” em seu livro Este admirável mundo louco de 2003 e cada vez que releio esse trecho reascende uma vontade de não parar de tentar: de quebrar os vidros que impedem o crescimento físico-crítico que segue a lógica de um sistema segregador em seu cerne. Que me violenta todos os dias com os modelos, métodos e técnicas coercitivamente sutis, eu me acostumo... Me acostumei a sempre esclarecer os objetivos, o método, descrever quem é o participante, ter um respaldo teórico de autores consagrados pela comunidade acadêmica e, somente a partir deles, poder posicionar o meu entendimento sobre mais um trabalho acadêmico – sim, o trabalho que todo aluno² tem o direito de não recusar.

É neste espaço de massacre da subjetividade que emergem figuras que resistem a burocratização e mediocridade que se alastram como uma praga! Acredito que a proposta desse trabalho é uma dessas figuras e tento fazer com que minha escrita também seja.

Contudo os vestígios que essas palavras podem assumir remetem ao meu viés e crença na educação, do qual não consigo me desfazer ou deixar de lado por alguns momentos.



1 Uma realidade totalmente alheia de milhões de pessoas no nosso país que sobrevivem com um quarto desse valor. Às vezes uma família de 5 ou 8 pessoas. Esse é mais um assunto que rende muitas conversas e opiniões: a educação particular no nosso país, em especial os cursos “superiores”.
2
Voltando a raiz desta palavra encontramos o latim mais vívido que nunca: os “não iluminados” cada vez mais em luz, e sem vontade ascender (o interruptor).

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Escuta: uma tentativa - Adaptação Parte I


Em tempos de retorno as aulas, faço aqui a primeira adaptação do único trabalho acadêmico que, até o momento, me orgulho de ter produzido.
São fragmentos que me afetam e me modificam a cada nova leitura e re-re-edição do total de 15 páginas desenhadas a mão.

Mas antes das primeiras palavras julgo importante fazer alguns esclarecimentos acerca do que falará as próximas postagens que virão por aqui...



E se eu me escutasse?

Certa vez, ao entrar neste centro universitário encontrei uma pessoa que cantarolava pelos corredores do terceiro andar, local que as aulas do curso de psicologia são realizadas, e este fato chamou minha atenção à medida que todos a olhavam e comentavam baixinho. Tempos depois, ou melhor, um semestre depois, encontrei essa mesma pessoa no elevador cantando a mesma música e ela me perguntou se eu fazia psicologia. Eu, assustada, respondi que sim e ela replicou que um dia eu ficaria tão louca quanto ela que estava no sétimo semestre do curso de psicologia. Naquele momento eu não soube o que responder e sorri desajeitadamente como se não houvesse outra atitude que expressasse mais e melhor a minha confusão e falta de entendimento sobre o que ela estava falando.
Faz exatamente três anos que este encontro aconteceu e a cada crise de dúvidas e sofrimentos – que esse curso me provoca – me lembro e reproduzo as suas palavras e olheiras que moldavam aquela expressão fadigada.
Agora você poderia me perguntar em que ponto essa pequena história faz ligação com um trabalho da disciplina de Métodos e Técnicas de Exploração e Diagnóstico em Psicologia: Psicanálise, que tem como proposta de atividade de conclusão da disciplina exercitar a escuta a partir de uma obra de arte qualquer modalidade. Pois bem, há dois meses eu responderia que estou tão maluca quanto a pessoa que cantarolava - já que agora é a minha vez de estar no sétimo semestre e eu também canto pelos corredores - hoje eu respondo que eu não consegui escutar o que aquela voz abatida tentava me dizer.

* * *

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Um corpo cai

Não! Não é hora para isso aparecer aqui.
Deveria ter sido quando ela ainda estava embaixo do queixo de frente com a imagem do pescoço raivoso que ainda estava viva na sua pele, convertida em medo e resultando num olhar arredio. Desconfiada que aquela verdade não existisse mais, e pior, que ela havia sido ludibriada com fervor.


A dor da espera pela finalização daqueles poucos minutos de lembranças se esticava e nada podia impedir que aquilo continuasse o seu caminho, somente o seu fim, por si só, conseguiria trazê-la de volta aquela cama com cheiro vulgar, abrir os olhos e ver seu corpo despido e sentir a culpa da falsidade... Mais uma vez.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

De madrugada 2

Quando o telefone tocava, ela pressentia que o tempo de desejo vivo estava de volta. Dessa vez com uma experiência que só o tempo pode construir em alguém e com o a vontade que só a imaturidade seria capaz de provocar.

E por lá se foi ela. Numa noite de céu iluminado por sua cobiça e por um par de olhos que, curiosamente, a acompanhava por entre as ruas mais vazias a cada luz que se apagava nas janelas.

As horas passavam rápido e nada poderia ser escondido ali: o ódio, o amor, a raiva, o pecado, o desejo, a luxúria e o mal se apresentavam e se despediam como em um uma dança de troca de pares. Uma troca de asas que ela permitiu acontecer e que, mesmo arrependida, sustentou a sua excitação.

Horas, suor e quilômetros depois ela estava em sua cama, ainda fria e com um pé gelado para fora do cobertor, que insistia em não obedecer as suas ordens de ser o outro.

A noite se foi e o dia a fez lembrar que sonhos não se repetem e que as noites são mais doloridas quando o sol insiste em mostrar as olheiras.