sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Escuta: uma tentativa - Adaptação Parte II


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Em um espaço que o tempo é mensurado por semestre, o desempenho é medido por notas e o poder é estabelecido pelo pagamento de uma mensalidade no valor correspondente a dois salários mínimos¹ ... Esta entidade filantrópica assume seus contribuintes (no sentido mais cínico possível) como massa de modelar, mal moldada.

Ruth Rocha escreveu “Quando a escola é de vidro...” em seu livro Este admirável mundo louco de 2003 e cada vez que releio esse trecho reascende uma vontade de não parar de tentar: de quebrar os vidros que impedem o crescimento físico-crítico que segue a lógica de um sistema segregador em seu cerne. Que me violenta todos os dias com os modelos, métodos e técnicas coercitivamente sutis, eu me acostumo... Me acostumei a sempre esclarecer os objetivos, o método, descrever quem é o participante, ter um respaldo teórico de autores consagrados pela comunidade acadêmica e, somente a partir deles, poder posicionar o meu entendimento sobre mais um trabalho acadêmico – sim, o trabalho que todo aluno² tem o direito de não recusar.

É neste espaço de massacre da subjetividade que emergem figuras que resistem a burocratização e mediocridade que se alastram como uma praga! Acredito que a proposta desse trabalho é uma dessas figuras e tento fazer com que minha escrita também seja.

Contudo os vestígios que essas palavras podem assumir remetem ao meu viés e crença na educação, do qual não consigo me desfazer ou deixar de lado por alguns momentos.



1 Uma realidade totalmente alheia de milhões de pessoas no nosso país que sobrevivem com um quarto desse valor. Às vezes uma família de 5 ou 8 pessoas. Esse é mais um assunto que rende muitas conversas e opiniões: a educação particular no nosso país, em especial os cursos “superiores”.
2
Voltando a raiz desta palavra encontramos o latim mais vívido que nunca: os “não iluminados” cada vez mais em luz, e sem vontade ascender (o interruptor).